No dia 27 de março, a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader, participou do webinário “Mulheres na Ciência: Inovação e Sustentabilidade”, promovido pelo British Council em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O evento marcou o lançamento da 4ª edição da Revista Mulheres na Ciência e a 3ª temporada do Podcast Mulheres na Ciência, produzidas pelo British Council, e celebrou os projetos vencedores do prêmio Mulheres e Ciência, categoria Mérito Institucional, realizado pelo CNPq.
Em sua fala, Nader comentou sobre os esforços que sua gestão na ABC têm feito para atrair mais mulheres para os quadros da Academia, e fez uma autocrítica de que, embora a participação feminina venha aumentando, a ABC ainda não reflete a população brasileira, sobretudo racialmente. “A diversidade na ciência é fundamental pois é dela que nascem as soluções”, afirmou.
Questionada sobre os ataques que a pauta da diversidade vêm sofrendo no cenário internacional, sobretudo a partir da posse do novo governo norte-americano, a presidente da ABC fez um alerta. “A solução é educação e democracia. Se não ensinarmos sobre democracia estaremos em risco permanente. O que está acontecendo nos EUA é um recado do que pode acontecer conosco se não tivermos isso em mente”.
Além de Nader, o webinário recebeu a jovem cientista Francielly Rodrigues, integrante da lista Forbes Under 30 na categoria Ciência e Educação. Nascida no município de Moju, a 120 km de Belém do Pará, a jovem conheceu a pesquisa através de uma feira de ciências e, quando tinha apenas 17 anos, desenvolveu um projeto para criar tijolos sustentáveis a partir do caroço do açaí que foi premiado no Brasil e no mundo. Hoje com 23, ela estuda Engenharia de Materiais na Universidade Federal do Pará (UFPA) e também atua como diretora de Ciência e Tecnologia de Moju.
Refletindo sobre sua própria experiência, Francielly lembrou como é desafiador levar a ciência aos jovens periféricos da Amazônia, principalmente por conta das grandes distâncias. “Foi através de um projeto de extensão que eu conheci a UFPA e quis fazer parte dela”. Por isso, tanto no movimento estudantil quanto como diretora de C&T em Moju, a jovem defende a organização de feiras de ciências e espaços de extensão, para trazer quem está fora da universidade para dentro de seus muros.
Em outro ponto, Francielly alertou que uma das maiores barreiras para jovens periféricos é a burocracia das universidades. “Há uma demanda excessiva por documentos e processos aos quais muitos desses jovens não estão acostumados. Coisas que parecem simples para nós podem ser impeditivos para conseguir bolsas ou até vagas, fazendo com que muitos desistam antes mesmo de começar”.
Para a professora Diana Cristina de Azevedo, vice-reitora da Universidade Federal do Ceará (UFC), instituição premiada pelo Mulheres na Ciência do CNPq, a extensão é uma via de mão dupla. “A universidade deve chegar não só para ensinar, mas também para aprender”, afirmou. Ela também listou algumas das ações tomadas pela UFC que fizeram da universidade um exemplo na inclusão de mulheres.
“Permitir que as estudantes mães levem seus filhos para almoçar nos restaurantes universitários foi algo simples que fez uma diferença notável na permanência. Também adotamos critérios de avaliação para projetos e bolsas que levavam em conta se as mulheres haviam tido filhos recentemente. Em áreas com menos de 30% de mulheres, como no caso das STEM, criamos cotas específicas para mulheres na busca por bolsas”, exemplificou.
Assista ao webinário completo: